sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

De Alma

Quando eu tinha 14 anos, todo dia quando eu estava chegando do trabalho (sim, eu trabalhava com 14 anos, e antes disso também) eu me deparava, descendo a rua de casa, com uma montanha tão verde, bem verdinha mesmo, daquelas que a gente acha que é de comer porque é da mesma cor dos bolos de aniversário inspirados em campos de futebol. Mas o verde da montanha não era verde da cor dos campos de futebol. Era verde da cor da cobertura do bolo mesmo. Eu achava aquilo lindo. E pensava que era pra sempre. Não que o verde fosse eterno, mas aquilo me passava uma paz tão grande, uma sensação de estabilidade, de segurança, que eu achava que a vida ia ser pra sempre. Queria acreditar que sempre que olhasse pra um verde como aquele, sentiria a mesma sensação.  E que aquele momento de vida era eterno. Quando chegava a noite, na varanda, eu tinha um céu que era só meu (do mesmo modo como a Sarah me perguntou outro dia, se o céu era meu) aquele era o meu céu. Se esticasse os braços poderia tocar as estrelas de tão pertinho que elas ficavam de mim. Parece que elas desciam de suas órbitas pra que eu (simples, mera pobre mortal) pudesse apreciá-las.  Meu Deus, não consigo me lembrar de nada mais lindo e recompensador do que o meu céu. Aquele que simplesmente surgia na minha varanda. Era diferente de qualquer céu que eu já vi até hoje. Sempre quando faço o trocadilho: “vai me levar/fazer ver estrelas” estou no meu íntimo, sentada no chão, bem quietinha olhando pro meu céu. E querendo eternizar aquele momento que é só meu. Posso pensar em mil coisas, ou em nada, não faz diferença. Debaixo do meu céu não é necessário avaliar, reavaliar, rever. Nada. Só olhar é o bastante. Que saudade eu tenho de quando eu podia olhar as coisas com os olhos que Deus me deu. Porque eu acredito fielmente que Deus não nos deu olhos apenas carnais. Nos deu olhos na alma, para ver as coisas dessa maneira. Com gosto, com cheiro. De alma. Obrigada Deus, por não ter me deixado esquecer destas imagens. Assim posso tentar revê-las ou revivê-las em outros lugares que não sejam aqueles. Mas com as mesmas sensações.
09/12/2010 às 22:01

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